Análise GEBSAPrev: início de ano desafiador para os mercados financeirosPor Rone Almeida, economista-chefe, i9 Adivisory
Em 2023, além dos riscos financeiros tradicionais, como a volatilidade nas ações, nos títulos públicos e nos demais ativos que compõem os perfis e as carteiras mais agressivas, observamos também outro risco inerente aos investimentos, o risco de crédito, que geralmente aparece nos perfis e carteiras mais conservadoras.
O risco de crédito se traduz como o não pagamento ou o atraso de uma dívida e, normalmente, é medido pelo histórico de pagamento da empresa, quase como um score, conhecido no mercado financeiro como nota de rating.
Nos primeiros dias de janeiro deste ano, houve o evento das Lojas Americanas quando a empresa divulgou um fato relevante – uma das formas que uma empresa de capital aberto tem para prestar informações para o mercado –, avisando sobre uma possível fraude no balanço financeiro dos últimos anos, o que acarretou um aumento na dívida de R$ 20 bilhões de reais para aproximadamente R$ 40 bilhões de reais.
Neste caso, o risco de crédito se concretizou. Os investidores de Americanas ao saber da fraude no balanço, tentaram antecipar o pagamento de dívida com a empresa, que para se proteger, pediu à Justiça uma recuperação judicial, que foi aceita.
Com a informação de uma fraude eminente e da recuperação judicial, os investidores remarcaram os ativos de crédito da Americanas para aproximadamente 15% do seu valor original, ou seja, os investidores estão dizendo que a empresa só conseguirá honrar com este percentual de sua dívida total. Sendo assim, quem possuía R$100 reais em dívidas da empresa, no atual momento, a dívida vale somente R$15 reais.
Antes deste fato relevante, da descoberta de fraude e da recuperação judicial, a Americanas era amplamente conhecida como uma excelente pagadora de suas dívidas, tendo um rating AAA (triplo A), isto é, a melhor nota que uma empresa poderia ter. A fraude realmente pegou todos no mercado de surpresa.
Boa parte dos fundos de crédito, perfis e carteiras de investimentos, especialmente, as mais conservadoras, possuíam ativos de crédito da Americanas, sofrendo um impacto pontual por conta da remarcação destes ativos de 100% para aproximadamente 15%.
Por conta deste choque inicial de Americanas, os investidores se questionam se outras empresas estariam na mesma situação, prorrogando momentaneamente o estresse de crédito para outros ativos. Não na mesma magnitude de Americanas, o que vimos foram empresas que tiveram remarcação de preços na ordem de 100% para 99%, algo bem normal do mercado.
Entendemos que este estresse de crédito privado não deve se estender por muito tempo, dado que o evento inicial que gerou todo este caos foi uma fraude contábil, um caso raro em empresas do porte das Lojas Americanas, que teve uma reputação bem definida por muito tempo.
Além desta crise no crédito privado, tivemos outros eventos no mercado financeiro que acabaram impactando os investimentos no começo de ano. Os principais foram os ataques de vândalos aos Três Poderes em Brasília, trazendo certa instabilidade política; a interferência do novo governo em empresas estatais e no Banco Central; e mais recentemente a quebra de dois bancos de médio porte nos Estados Unidos e a do Credit Suisse, na Suíça, este último um dos maiores bancos do mundo.
Posto isto, de fato, o ano está mais desafiador do que o esperado, com diversos eventos totalmente extraordinários acontecendo ao mesmo tempo, impactando a rentabilidade dos investimentos de maneira geral e em escala global.
Para mitigar estes eventos extraordinários, a melhor forma é a diversificação dos investimentos, seja via estratégias, seja via diversos fundos de investimentos.
Para ilustrar, o perfil superconservador da GEBSAPrev foi impactado negativamente em 0,70%, sendo aproximadamente 0,40% em janeiro e 0,30% em fevereiro, devido a esses eventos extraordinários descritos. No entanto, não apresentou retorno negativo em nenhum mês, mostrando a eficácia da diversificação. O impacto observado nos perfis da GEBSAPrev foi menor do que a média de mercado, com alguns perfis e carteias sofrendo impactos negativos superiores a 2,00%, rentabilizando negativamente nos dois primeiros meses do ano.
Atualmente, a carteira de investimentos da entidade está composta por 66 fundos, sendo o de menor risco o Empréstimo da GEBSAPrev e o de maior risco os fundos de ações. Definidas por um Comitê de Investimentos, composto por membros da Diretoria da entidade, dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, da i9Adivisory e da Galapagos Investment Solutions, as alocações têm uma gestão ativa sempre atenta às oportunidades de mercado.
Publicado em: 27 de Março de 2023
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